segunda-feira, 10 de maio de 2010

Abrindo janelas...



Existem noites em que tudo o que desejo (e mereço!) é abrir uma janela de casa e com muita fantasia fazer uso do encantador pó de pirlimpimpim, tão usado pela inquieta fada Sininho. E, assim, sair flutuando, voando pelo mundo afora. Percorrendo com leveza os caminhos usuais e percebendo que as coisas simples do cotidiano podem ser extremamente gratificantes, desde que sejam vistas sob um novo ângulo.



( www.tour-eiffel.fr/index.html )

Infinitas vezes viajo sem sair de casa. São viagens realizadas através da minha rica e saudável imaginação, ora impulsionada por tv, livros, internet e ora por lembranças e desejos.




(http://www.turismo.intoscana.it/ )



Frequentemente realizo um tipo de viagem especial, livre e sem roteiro. Uma viagem que é uma espécie de divagação da alma e para isso o meio de transporte que utilizo é simplesmente uma janela; sim, uma janelinha ou janelona.

( http://www.salvadordalimuseum.org/ )

A janela tem o poder de me levar para outros cantos; através dela posso acompanhar motoristas, ciclistas, pedestres, pilotos e até mesmo pássaros e borboletas, caso queira percorrer o universo poético.




(http://www.freud.org.uk/)



Quantas janelas conhecemos que ja serviram de cenário para lindos e trágicos contos de amor? Romeu e Julieta, com o amor proibido; Rapunzel , com as suas enormes tranças e tantos outros. Quantos galanteios já foram feitos sob o parapeito de uma janela? E as recusas...ahh, quantas janelas se fecharam deixando inúmeros corações desiludidos, desolados.





( www.ibahia.globo.com/salvador459anos/interna/default.asp?modulo=3298&codigo=172430 )

Sensação de sufocamento, quase claustrofóbico; é isso o que tenho quando me imagino num canto onde não posso ter o prazer de, ao despertar, abrir as janelas e fazer delas a extensão dos meus olhos permitindo que todo o ambiente perceba o mundo lá fora e sinta o pulsar da vida. Afinal, as janelas são os olhos da casa.




( http://www.casabatllo.es/ )

As janelas são os detalhes das contruções que, inicialmente, mais atraem a minha atenção. Sempre que saio por aí me pego viajando por elas; criando ou recriando histórias onde elas foram peças fundamentais no roteiro. Quem nunca teve que recorrer à uma janelinha sem tranca para poder entrar em casa após desistir de arrombar aquela bendita porta emperrada? Ou quem jamais "esqueceu" a janela encostadinha para que fosse cúmplice de uma atrevida aventura noturna? Isso sem falar dos momentos de devaneios em que uma gigantesca onda criativa toma conta e faz com que eu, em poucos minutos, consiga criar toda a estrutra de uma casa, com a rotina, costumes e até a personalidade de cada um dos seus moradores, utilizando para isso a visão de apenas uma janela da casa. Santa imaginação!!






(http://www.alcobacabahia.com.br/ )



Enfim, uma coisa é certa: as janelas são minhas aliadas, sempre! Me aliviam, quando estou sufocada; me alegram , quando apresentam as festividades passando pela rua; me enchem de entusiasmo, quando me mostram quem está chegando...seja o carteiro, o amor ou simplesmente o entregador de pizzas.





(http://www.brugge.be/)



As janelas são suaves, discretas, observadoras e até tímidas em algumas ocasiões; são elas que exercem a sábia função de selecionar, de escolher. Graças à elas é possível optar por receber calorosamente quem chega ou silenciar e esperar que o visitante, tipo persona non grata, se vá...






(http://www.mibsasquerido.com.ar/ )



Algumas pessoas desenvolvem uma espécie de simbiose com as suas janelas. Escolhem uma e mantém uma relação intíma e constante com ela; a janela vai, aos poucos, sendo adaptada de maneira que possa proporcionar conforto ao seu "usuário". Uns colocam almofadinhas para não machucar os cotovelos enquanto interagem por horas a fio com o mundo lá fora. Outros buscam se sentar confortavelmente em uma cadeira para, anonimamente, desfrutar de um prazer escópico, enquanto observa, calmamente, o movimento dos transeuntes.





( http://www.guiatiradentes.com.br/ )

Uma noite clara e fresca, agradabilíssima. Perfeita para fazer um belo passeio descompromissado após um produtivo, porém exaustivo, dia útil. Um passeio propício para espantar alguns fantasmas que insistem em assustar com "bobeirinhas". Um passeio por lugares desconhecidos, visitando cantos secretos, espiando janelas misteriosas. Janelas carregadas de dores e de amores. Aventura ideal para se fazer na companhia do mais famoso voyer do mundo encantado: Peter Pan. E junto com ele, despertar o desejo de viver num tempo em que tudo era um adorável "faz de conta na terra do nunca".






( http://www.viennaaustria.co.uk/ )

Eu poderia usar centenas de adjetivos para as janelas, mas esse texto ficaria imensooooooo...então vou deixar algumas imagens e um pouco da memorável Cecília Meireles. Espero que apreciem essa viagem.

( http://www.dorchester-on-thames.co.uk/ )


Beijinhos.



A arte de ser feliz



Houve um tempo em que minha janela.

Se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.

Perto da janela havia um jardim quase seco.

Era uma época de estiagem,de terra esfarelada, e o jardim parecia morto.

Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde e,

em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.

Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.

E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caiam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.

Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.

Outras vezes encontro nuvens espessas.

Avisto crianças que vão para a escola.

Pardais que pulam pelo muro.

Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.

Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.

Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.

Às vezes um galo canta.

Às vezes um avião passa.

Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.

E eu me sinto completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,

Que estão diante de cada janela,

Uns dizem que essas coisas não existem,

Outros que só existem diante das minhas janelas,

E outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar,

Para poder vê-las assim.



( www.giverny.org/gardens/ )




( http://www.edinburgh.org/ )





(http://www.ot-saint-tropez.com/ )





(http://www.czechtourism.com/ )





( www.aixenprovencetourism.com/uk/ )





( http://www.cotedazur-tourisme.com/)




(http://www.mariana.org.br/)

5 comentários:

  1. Mizinha, belíssima reflexão sobre o ato, simples e poético, do olhar pela janela!

    Eu também viajo em minha janela. Principalmente aos domingos que é dia de feira aqui na rua onde moro. Fico percebendo a multidão daqui de cima (é cada figura que eu vejo)rsrs só depois eu desço pra fazer parte da multidão! (nada poético nisso mas tá velendo).;)

    Lindo o texto da Cecília Meireles!

    Amiga, adoro vir aqui sorver da sua sabedoria e sensibilidade...Ah, me sinto tão bem nesse cantinho encantado e tão cheio de personalidade.

    Muitos abraços beijinhos e carinhos sem ter fim... ;)

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  2. Fofíssima!
    Tava aqui da minha janela matutando:

    Senti falta de uma certa janela que dá para um certo jardim que dá pra um certo pomar onde já rolaram umas reuniõezinhas regadas a muita conversa boa e risos soltos. E que fica numa cidadezinha lá no sul da Bahia!
    Ai, que saudades! ;)

    Beijinhos abraços e carinhos sem ter fim, traveis!

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  3. Flor...essa e as outras janelas e portas sempre estarao abertas pra vc...
    Fico feliz que tenha gostado do texto.
    Brigadinha..
    Saudades..beijinhos.

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  4. Nossaaaa, veio a mente as "nossas janelas", aquelas: das praias, dos namoros, da fazenda, dos dias de chuva...rsrsrs. Realmente, memoráveis! Adorei o texto.

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  5. Ahhh Grazy...qtas saudades daquelas "janelas"...cheias de lembranças...eram deliciosas!!!
    Adoro qd deixa recadinhos...
    Beijinhos...

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