de Lá pra Cá: novembro 2010

domingo, 21 de novembro de 2010

Onde Vivem os Poetas?

Os poemas

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
(Mário Quintana)

Outro dia li alguns poemas e fiquei espantada, pois me deparei com alguns grupos de palavras que tomavam a forma dos meus anseios; e na medida que eu lia, era suavemente atacada por eles; sem resistências me tornava, pouco a pouco, prisioneira daqueles versos tão bem escritos.
E foi assim que descobri que os poetas são seres "estranhos", pertecem à outro mundo e são dotados de armas poderosas: as palavras que dão beliscões na alma de cada mortal desatento, daqueles que passam pela vida cometendo um grave delito de não percêbe-la.
Aos pouco fui observando a relação que algumas pessoas desenvolvem com os poemas.
Existem aquelas que lêem e apreciam, sem muito envolvimento.
Existem outras que lêem, consomem e internalizam a poesia através da arte, em todas as suas formas: literatura, cinema, pintura, teatro, música...
E existem pessoas que lêem, percebem e fazem a poesia à partir de situações corriqueiras da vida; das intémperies pessoais. Essas pessoas utilizam dos seus recursos naturais, internos e externos, para falar sobre as suas dores e os seus amores, de forma mágica, lírica; e com isso, conquistam apreciadores que compartilham de sentimentos similares, mas que não conseguem externalizá-los com tanta sapiência.
Imagino que ser poeta é ser diferente..é pensar, sentir , agir e lidar constantemente com a ambiguidade. Os poetas transitam por caminhos extremos; passeiam por paisagens onde só aqueles que tem o conhecimento da pequenez e da limitação humana possuem o mapa.
São alienígenas!!
E vez ou outra me pego fascinada com a idéia de conhecê-los com uma pitada de intimidade. Ter uma relaçao do tipo que permite sair para um encontro; para beber alguma coisa: café, chá ou vinho...Para conversar um pouco,gargalhar...Para fazer um piquenique ou até "otras cositas mas".
Devaneio...Puro devaneio!!!
Porque, pensando bem, eu acho que ficaria um "tantinho" tímida em abordar certos assuntos com eles; tipo: a síndrome de personalidades (múltiplas) com o Pessoa; a função paterna com o Kafka; fidelidade/adultério com o Flaubert; isso sem mencionar o tema sedução (narcisismo) com o Lord Byron; mentiras e traições com Shakespeare e, obviamente, ciúmes obsessivos com o Machado de Assis...etc, etc. Portanto, acho mais sensato lê-los à me casar com eles.

Se bem que sempre apreciei a idéia de poder viver por uns tempos com os adoráveis: Carlos Drummond, Chico Buarque, José Saramago, Guimarães Rosa, Pablo Neruda, Vinícius de Moraes, Arnaldo Jabor, Jorge Amado, Gabriel Garcia Marques, Mário Quintana, Jorge Luís Borges, Érico Verissímo, João Ubaldo Ribeiro, Miguel de Cervantes, Umberto Eco...afff...são tantos e são tão..tão...tão encantadores!!!
Agora acrescenta aí deliciosas tardes "tricotando" sobre preconceitos e dramas pessoais (depressão, suicídio, etc) com as doces e cativantes poetisas. Uma relação do tipo best friends forever com a Clarice Lispector, Cecília Meireles, Rachel de Queiroz, Jane Austen, Cora Coralina, Virgínia Woolf, Simone de Beauvoir...Uh-lá-lá!!!
Nada mal, heim?
Mas afinal,onde mesmo vivem os poetas: na rua, no mundo da lua ou numa caixinha secreta dentro de cada um de nós?
Enquanto não descubro isso, que tal viajarmos um pouquinho nos cantos e contos de algumas dessas almas iluminadas??
Beijinhos e Boa Viagem !!

Saramago


Chico & Vinícius

Fernando Pessoa: Portugal

                                              "Segue o teu destino...
                                               Rega as tuas plantas;
                                               Ama as tuas rosas.
                                               O resto é a sombra
                                               de árvores alheias"
   (F. Pessoa / Ricardo Reis)

Lisboa

Franz Kafka: República Checa

" Todas as falhas humanas provêm da impaciência. "
(Kafka)

Praga

Gustave Flaubert: França

"Não é bom tocar nos ídolos; o dourado pode sair nas nossas mãos." ( Flaubert )

Croisset

Lord Byron: Inglaterra

" O amor nasce de pequenas coisas, vive delas e por elas às vezes morre."
(Byron)

Londres

Machado de Assis : Brasil

"O esperado nos mantém fortes, firmes e em pé.

         O inesperado nos torna frágeis e propõe recomeços."

(M. de Assis)

Rio de Janeiro

Carlos Drummond de Andrade: Brasil

" Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo."
(C. Drummond)

Itabira - M.G

José Saramago: Portugal

" Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara."
( Saramago)


Azinhaga

Guimarães Rosa: Brasil

                        "O correr da vida embrulha tudo.
                    A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa,
                    sossega e depois desinquieta.
                    O que ela quer da gente é coragem."
(Guimarães Rosa)

Cordisburgo - MG

Pablo Neruda: Chile

       " Não quero dormir sem teus olhos.
         Não quero ser, sem que me olhes.
         Abro mão da primavera para que continues me olhando."
   (Pablo Neruda)

Santiago

Érico Veríssimo: Brasil

" Na minha opinião existem dois tipos de viajantes: os que viajam para fugir e os que viajam para buscar."

(E. Veríssimo)

Cruz Alta - R.S

Miguel de Cervantes: Espanha

" Andar por terras distantes e conversar com diversas pessoas torna os homens ponderados."

(Cervantes)

Alcalá de Henares

João Ubaldo Ribeiro: Brasil

" Freios são necessários para o nosso equilíbrio."
(João Ubaldo)

Ilha de Itaparica - Ba

Shakespeare : Inglaterra

"Existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia."
(Hamlet - Shakespeare)

Stratford -Avon

Vinícius de Moraes: Brasil

                                                        "Que não seja imortal,
                                                              posto que é chama,
                                                              mas que seja infinito
                                                              enquanto dure..."

( Vinícius de Moraes)

Rio de Janeiro

Mário Quintana: Brasil

                          " Eu moro em mim mesmo.
                            Não faz mal que o quarto seja pequeno.
                            É bom, assim tenho menos lugares para perder as minhas coisas "
   ( M. Quintana)

Alegrete - RS

(Foto by Adaly Pinheiro)

Chico Buarque: Brasil

"Nem toda loucura é genial

Nem toda lucidez é velha"

(Chico Buarque)

Rio de Janeiro - R.J

Jorge Amado: Brasil

"A vida é feita de acontecimentos comuns e de milagres."
(Jorge Amado)

Ilhéus - BA

Gabriel Garcia Marquez : Colômbia

"Quero grandes histórias e estórias; quero o amor e o ódio; quero o mais, o demais ou o nada. Não me importa o que é de verdade ou o que é mentira, mas tem que me convencer, extrair o máximo do meu prazer e me fazer crêr que é para sempre quando eu digo convicto que "nada é para sempre."

(Garcia Marquez)

Las Lajas

Arnaldo Jabor: Brasil

" Toda mulher é "Bovary"... "
(Jabor)

Rio de Janeiro - R.J

Jorge Luís Borges: Argentina

" Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de livraria."
(J. Luis Borges)

Buenos Aires

Umberto Eco: Itália

"Alguém que é feliz a vida toda é um cretino; por isso, antes de ser feliz, prefiro ser inquieto."
( Umberto Eco)

Alexandria

Clarice Lispector: Ucrânia / Brasil

"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença."
(Clarice Lispector)

Ucrânia

Rachel de Queiroz : Brasil

''A gente nasce e morre só. E talvez por isso mesmo é que se precisa tanto de viver acompanhado. ''
(Rachel de Queiroz)

Fortaleza

Simone de Beauvoir : França

“Não há uma pegada do meu caminho que não passe pelo caminho do outro”

(S. de Beauvoir)

Paris

Jane Austen: Inglaterra

"O orgulho relaciona-se mais com a opinião que temos de nós mesmos, e a vaidade, com o que desejaríamos que os outros pensassem de nós."
(J. Austen)

Steventon - Hampshire

Cecília Meireles : Brasil

"Aprendi com a primavera a me deixar cortar. E a voltar sempre inteira."

(C. Meireles)

Rio de Janeiro - R.J

Virginia Woolf: Inglaterra

   " A vida é uma é uma auréola luminosa,
       um envelope semi-transparente nos surpreendendo desde o
                       início da consciência até o final."

Rodmell

Cora Coralina: Brasil

"Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove. E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida."

(C. Coralina)

Cidade de Góias - Go

Beijinhos e Boa Viagem!!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A dona do tempo

O vôo não estava atrasado e ela, sentada na sala de embarque, tentava ansiosamente absorver um pouco mais daquela atmosfera que tanto lhe seduzia.
O cenário era o aeroporto de Heathrow, em Londres (Inglaterra). Local por onde circulam uma média de cento e oitenta mil pessoas por dia. Habitantes do mundo inteiro passavam pra lá e pra cá (ou de Lá pra Cá?!), cada um com o seu ritmo, cada um com a sua "bagagem". Ela se via diante de um laboratório gigante, onde poderia elaborar inúmeras teorias acerca do comportamento humano.Mas, naquele momento, era apenas o seu comportamento que a inquietava.
Era o começo de um novo ciclo, com todas as adversidades a que tinha de direito: instablidades, inseguranças, expectativas e porque não dizer, possibilidades e esperanças também.
Ela havia feito uma escolha que mudaria toda a trajetória da sua vida e estava prestes a conhecer as transformações decorrentes do seu ato. O seu mundo, repleto de compromissos, mágoas e conflitos, a aguardava; portanto, não havia a menor chance de uma fuga bem sucedida, ela sabia que precisava entrar naquele avião.
Durante longos minutos ela ficou absorta em seus desejos.Desejos de aprisionar os seus fantasmas em qualquer lugar bem longínquo, amordaçar o seu superego, soltar as suas amarras e correr o mundo, como dizem por aí: "sem eira nem beira". Simplesmente, sair em busca de novas histórias, novos destinos.
O seu transe, então, foi interrompido pela voz esganiçada do alto falante avisando que era a hora de voltar para casa.
Casa...a sua casa. Gostava dela. Gostava da segurança e do aconchego que encontrava lá. Mas, isso não era suficiente; pois, agora, ela sentia-se inquieta e habitada por idéias de viver em outro espaço geográfico. Queria viver num ambiente que a tornasse mais fértil à ponto de criar novos projetos, experimentar novos sabores e adquirir novos olhares.
Foi um longo vôo; não o suficiente para ela, que desejava continuar "fora de órbita" por mais algumas horas, dias, semanas...Até que aterissou e incorporou o seu papel naquele novo contexto que estava se descortinando.
A partir daí foram dias e noites preenchidos com muitas incertezas. Período em que a sua rotina deixou de ser atraente e os seus sonhos ficaram tímidos. E no correr da vida, entre uma batalha e outra;entre vitórias, derrotas e muitos empates, a nossa heróina nem se deu conta de que o tempo ia passando totalmente alheio aos seus sonhos de "investigar" o mundo; sonhos de se inserir, antropologicamente (ou não) em cotidianos tão diferentes do seu.
Mas, nada como uma boa dose de realidade para provocar repetidas crises convulsivas e fazer emergir da alma as dores e os amores já emudecidos e opacos.
E foi então que o poderoso deus chamado Cronos, aquele que com muita voracidade devora tudo e todos; aquele que, tiranicamente, está acostumado a ceifar até os desejos mais intensos e obsessivos, se deparou com uma simples "mortal" munida com os seus fantasmas (eles são mais úteis do que imaginamos) e com as suas ambições, determinada à lutar para conquistar o seu objetivo: resgatar o desejo de sorver as peculiaridades culturais de cada canto que lhe encanta.Mesmo que para isso ela precise viver mil anos!!
Pelo visto, a "peleja" entre eles não tem data para acabar.
Que vença o melhor!!

Vejamos uma pequena amostra do que tem de bom por aí :